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sábado, 31 de março de 2012

O MENINO-MULA

para Lucas Santana*

E agora, como se limpa esta mancha de sangue das roupas, este cheiro peculiar da mistura de sêmen, bosta e urina? Alvejante e indiferença? Quais são as chaves para salvar o menino que agora você prende, usa e estupra? Quais são as chaves para salvar sua corja depois que tudo pender na forca? Depois que o trem passar por cima de sua roupa de malha fina que também nos foi roubada? Que gosto tem a carne podre entre os dentes, que som tem o gemido dos doentes? Nosso destino trágico e sinistro, nossas palavras soltas e dementes. Ato de amor aqui é manter o lobby, roubar os pobres, arrancar-lhe os ossos, enfeitar clavículas em mesas regadas a vinho e algumas cláusulas. Que gosto tem minha porra em sua boca? Sangue e fotografia esparramados numa cova fria, já posso mijar na sua cara? O teu Deus vomita plantas mortas e maçãs ressecadas, castanhas do Pará engasgadas. Há papéis higiênicos importados para limpar sua bunda? Quantos nomes estariam gravados em sua mesa, quantos se favoreceram com a chuva? Política de cu é rola, nem tudo acaba em pizza. Qual será a sobremesa?

 
* para ler ouvindo o deus que devasta mas também cura. 

quinta-feira, 15 de março de 2012

VESTÍGIOS


uma festa com fogos de artifício
pra memória dos mortos:
alegria e cinema

apocalipses
interrompendo o curso
da previdência privada

a realidade é bruta
é cerveja gelada
é cansaço de puta

o jornal pela porta
é uma arma, uma corda
pra amarrar o cabelo
e a tristeza
que ora viva, ora morta
no pé da mulata
jinga
na dor do poema.

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