Porque a vida, minha mãe,
há de ser mais que isso, esse caminhar para Deus com tanta tristeza
digna. Essa fina desesperança que compõe a lida. Há de ser mais
que mentira e traição, mais que os outros espiando fechaduras. Há de ser mais que um gozo desprovido de ternura, mais
que a morte que nos nutre de força e amargura. Há de ser o canto
de Elis iluminando salas e os anos das crianças, um jardim de
tulipas, o sono sem culpa. Há de ser o carinho que não fere, não
mata e não estupra. Há de ser caqui desmanchando na boca e o
pássaro que volta pousando na porta. Há de ser a saudade boa das
coisas idas e a garoa noturna que traz falenas, o cheiro terroso das ruas
da chuva que tanto demora. Porque a vida, minha mãe, há de ser o
simples sorriso que aflora, mais que a velhice que nos enfraquece e
nos devora. Mais que esta luminosidade de treva que nos encobre
agora.
photo by Bruce Weber
Sim, há de ser tudo isso. Belíssimo texto!
ResponderExcluirAbraços.
bom ver vc aqui, Lidi.
ResponderExcluirObrigado.
Querido, muito intensa.
ResponderExcluirVc está cada vez melhor. O que tem feito em Seabra? Soube que estás ensinando. Parabéns! Sou sua fã. Bju enorme.
Surpresa descobrir seu comentário aqui, Magaly! E, sim, estou em Seabra cumprindo mais um ciclo! Bjo-te
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