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sábado, 30 de março de 2013

REGURGITAÇÃO

Entre miasmas, ruídos, máscaras, entre o parque central e o cemitério São Pedro, onde havia uma cova com meu nome, de sandálias pela cidade cenográfica até o mar: performances, deformances e reformances contribuíram para certo pulso vital de um lugar de fluxo contínuo e d`aguazul inigualável.Oxalá! Com tanto peso simbólico, foi impossível conter o vômito. Barcos, corações, crucifixos, mercedes, facas, tumblios dissimulados postos pra fora sob um grito mudo e uma intensidade fraterna.




terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

paparam meu sono

"e ainda que as janelas se fechem, meu pai, 
é certo que amanhece"
(Hilda Hilst)

Em meus dias de insônia, consigo ouvir o raspar das vassouras retirando o lixo das ruas. Isto acontece às três da manhã, hora em que muita dona de casa teria pavor de sair de seu aconchegante lar. Neste momento não sei muito bem, devido ao desejo urgente de dormir e à vigília involuntária, se é o diabo que está a dar um passeio ou se são mesmo vassouras raspando paralelepípedos. É a hora em que fecho as janelas definitivamente e aprendo a conviver com o calor constante de minha cidade natal e de meu quarto. É nesta hora indevida, porém, que a cabeça está processando uma série de informações adquiridas durante o dia e pernilongos insistem em arrodeá-la. Espalmo uns três já pesados de meu sangue, às três e trinta o galo encerra o canto. O ser insone passou a ser constante desde que preocupações mais abstratas começaram a ocupar o intelecto e a vida que, repetidamente, insiste em nos deixar ciosos do dia, ele pronto e singular, mas incapaz de transgredir a si mesmo. É o fardo das cidades pequenas, dos trabalhos carregados de função moral e da idade que não pode ser mais evitada. Dessa confusão momentânea, o estado da alma realiza solilóquios sobre a língua parada e há uma preguiça imensa sobre as coisas dos homens, sobre as minhas inclusive. Se rezo, penso no papa e se penso no papa, penso em carnaval. E neste momento mesmo sorrio por pensar o papado como um alegoria decadente, acho que pela ostentação contínua de poder e riqueza. Coisas que penso sem nenhum rigor, até porque não vou à igreja e pouco me interessa aquilo que o conclave dita para a juventude cristã que, inegavelmente, vai estar mais segura ao lado de ateus e agnósticos. O deus que não sou, pensa: a renúncia é uma denúncia. Entretanto, nunca fora novidade os causos de pedofilia, de corrupção e assassinatos na igreja. Jornais, revistas, todos ansiosos por mais uma declaração que lhes preencha pautas e laudas. Que assim seja, porque o mundo, em desagregação constante, mesmo que as mídias sociais e virtualizações da subjetividade indiquem o contrário, não precisa mais de instituições caducas. O que nada tem a ver com espiritualidade e poesia, certo é que o mundo e o homem sem espiritualidade são mais pobres, mas uma coisa é clara: da tríade só nos resta o espírito santo, porque o filho nós matamos, o pai sempre foi ausente e o espírito santo tenta capengamente se esquivar de tentativas constantes de corrompê-lo. Agora o sono é chegado e devemos aproveitá-lo, já que o melhor da vida ainda está adormecido. 

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Rainbowflux


Minha querida, Eleonor

Agora não há palavras nem disposição para qualquer poema, aceite esta pequena abstração como uma representação sanguínea imperfeita, acontecimento que ofusca os olhos, como um tipo de desprezo por toda arte tipográfica. Ando sem muita paciência e com uma certa tristeza comprimindo a testa e os ossos da mão. Conhecemos bem tal sentimentos que deixam os músculos relaxados e já sem forças. Pensei em porres e sonos prolongados, mas parece que nada mais funciona a essa altura do dia. Sento-me ao passeio a escrever esta carta como se, por um milagre, o ar me servisse de medicamento e o fluxo dos carros dinamizasse minha vida e minha compreensão das coisas. A cidade não silencia e meu barco permanece em sua zanza interminável. Luto contra o verme que me rói a paz de espírito, mesmo verme que talvez passe a ser uma das poucas coisas que possuo, como é usual. Evito me alimentar dessa tristeza e poucas moedas me restam para um uísque ou qualquer bebida quente. Espero que estejas recebendo minhas cartas, pois ouvi que o serviço de postagem do porto não anda muito eficaz, mesmo que agora pareçamos apenas dois fantasmas rumorejando nossas canções preferidas, distantes, é grande o desejo de adormecer em teus braços finos e partilharmos do mesmo sentimento de contemplação vazia que existe no toque das peles.

                            Do sempre seu,
                                                      Ian.



segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

para um pequeno amor


Eu diante da página em branco
que em nada se parece frente a um ano novo,
cuja única novidade é a manutenção de si mesmo,
cujo fluxo de moedas e carros ciclos sintomas e pulsões
se esvazia diante de uma paixão ou do sono.
Atravesso a primeira madrugada do poema.

Não seria sua a voz que escuto atravessar a janela?

Rasuro todos os poemas na tentativa de inventar novamente
outro conglomerado de palavras que tenha semelhança com seu rosto
ausências, chás de ervas finas e pétalas
há tanto guardados na gaveta que hoje mantemos trancada
contra o tempo que são ondas contra a pedra,
contra a pedra que é Deus na ideia das coisas,
sensação térmica que tenho e trago
como se este mesmo Deus queimasse dentro
em um último movimento, talvez
antes de amanhecer.

Um sax tenor desperta no espaço onde a métrica se dissolve.

Heya heya! Atracamos na linha imaginária,
no ponto onde estamos no mundo
e o mundo entre mim e ti.

Heya! Saudemos a enigmática permanência das coisas
como águas pedras que mudam, sereias
reescamadas por um artista do moma
et cetera.





  

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