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terça-feira, 30 de outubro de 2012

Ian Marin 2.0

I
Pastor dos Mares

À deriva, a vagar por aí
entre-ondas, perdido
ou por Deus esquecido:
Dei de cara com escombros
com o assombro da vida, 

de uma possível viagem.
E a bússola partida,
era trilha com o vento
em um veleiro branco,
pelo mar tenebroso,

no limite que faz
entender que a lida
recomeça no impulso
e os nossos recursos,
mesmo que sejam parcos,
encontramos no sangue.

Inventário de cinzas,
recomeço de nadas
e a possível viagem
pelas águas abertas.

E por baixo das nuvens 
com você na cabeça,
sinto a vela curvando,
flutuando nos mastros.

Vejo o rastro de espumas
e a quilha que leva
do pensamento solto, 
do voo livre ao pouso.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

BALEADO


No jogo, o corpo se esquiva
e a bola escapa da mão indecisa
e quica na cor terrosa
que lhes tinge calças
e calcanhares.

A claridade do suor
e a alacridade da ação
escorrem do pescoço
e do braço marcado.

E mesmo sob um céu limpo e impiedoso,
cercado de estacas e montanhas,
quase já sem vida pela secura dos tempos,
a terra levita pelo sopro
que desce da serra.

Na ponta do dedo
o mundo escapa
e cai no chão estilhaçado,
esparramado entre as unhas vermelhas
da menina adolescente
e os pedregulhos.  

domingo, 19 de agosto de 2012

DA BRUXA


Quem haveria de ocupar a cena
Senão tu e suas ervas daninhas?
Preparando a lenha, eu retinha
Reinscrições de tua maldade apenas.

Pois que na história de ti há centenas,
Coletora de alheias alegrias,
Tu, que acordas à noite e adormece o dia,
Constrói nas horas vagas outras vindimas:

Vodoos tecidos com os próprios cabelos,
Amores, conclaves demoníacos,
Fantoches com os olhos alinhavados.

Agudez do canto aleivoso,
Tuas unhas de vermelho menstruado
E o hálito embebido de amoníaco.  

sábado, 30 de junho de 2012


Porque a vida, minha mãe, há de ser mais que isso, esse caminhar para Deus com tanta tristeza digna. Essa fina desesperança que compõe a lida. Há de ser mais que mentira e traição, mais que os outros espiando fechaduras. Há de ser mais que um gozo desprovido de ternura, mais que a morte que nos nutre de força e amargura. Há de ser o canto de Elis iluminando salas e os anos das crianças, um jardim de tulipas, o sono sem culpa. Há de ser o carinho que não fere, não mata e não estupra. Há de ser caqui desmanchando na boca e o pássaro que volta pousando na porta. Há de ser a saudade boa das coisas idas e a garoa noturna que traz falenas, o cheiro terroso das ruas da chuva que tanto demora. Porque a vida, minha mãe, há de ser o simples sorriso que aflora, mais que a velhice que nos enfraquece e nos devora. Mais que esta luminosidade de treva que nos encobre agora.
 
                                                     photo by Bruce Weber

quinta-feira, 7 de junho de 2012


DOS ESTILHAÇOS


Lastros da casa antiga,
ferrugem, repletas de ferrugem
estão todas as vias.

Obnubilações da consciência
orfão subnegado, demônio do ar.
Arfando à procura do nome perdido
da face perdida na ilha submersa.

a volta que deste
a si mesmo impuseste
naufrágios,
abrindo portas e janelas
para abutres raivosos

que rondam teu fígado exposto
teu coração exposto, teus sonhos decompostos
por teus próprios amigos.

Restavam apenas três pormenores
desintegrados no tempo de um soluço,
fugazes como a alacridade de um sorriso:

Três descobertos e eram gêmeos
unidos pela violência de destruições incontáveis
e pelas mãos de uma mesma mulher, 
tão puta quanto a mãe.

O primeiro, reificado, eu mesmo.
O segundo ensaia risos, disfarça.
O terceiro ainda tritura entranhas
velado pela lua e incensos de canela.

O que ainda há de ser dito e transfigurado no poema
quando já nem mais podemos ficar
nus em nossas casas?

sábado, 31 de março de 2012

O MENINO-MULA

para Lucas Santana*

E agora, como se limpa esta mancha de sangue das roupas, este cheiro peculiar da mistura de sêmen, bosta e urina? Alvejante e indiferença? Quais são as chaves para salvar o menino que agora você prende, usa e estupra? Quais são as chaves para salvar sua corja depois que tudo pender na forca? Depois que o trem passar por cima de sua roupa de malha fina que também nos foi roubada? Que gosto tem a carne podre entre os dentes, que som tem o gemido dos doentes? Nosso destino trágico e sinistro, nossas palavras soltas e dementes. Ato de amor aqui é manter o lobby, roubar os pobres, arrancar-lhe os ossos, enfeitar clavículas em mesas regadas a vinho e algumas cláusulas. Que gosto tem minha porra em sua boca? Sangue e fotografia esparramados numa cova fria, já posso mijar na sua cara? O teu Deus vomita plantas mortas e maçãs ressecadas, castanhas do Pará engasgadas. Há papéis higiênicos importados para limpar sua bunda? Quantos nomes estariam gravados em sua mesa, quantos se favoreceram com a chuva? Política de cu é rola, nem tudo acaba em pizza. Qual será a sobremesa?

 
* para ler ouvindo o deus que devasta mas também cura. 

quinta-feira, 15 de março de 2012

VESTÍGIOS


uma festa com fogos de artifício
pra memória dos mortos:
alegria e cinema

apocalipses
interrompendo o curso
da previdência privada

a realidade é bruta
é cerveja gelada
é cansaço de puta

o jornal pela porta
é uma arma, uma corda
pra amarrar o cabelo
e a tristeza
que ora viva, ora morta
no pé da mulata
jinga
na dor do poema.

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